Além da Canábis: Outras plantas que produzem canabinóides
Para além da canábis, existem outras plantas que produzem canabinóides. O artigo de hoje abordará este tópico explicando o que são os canabinóides e oferecendo exemplos de espécies vegetais capazes de gerar este tipo de composto que é tão procurado hoje em dia.
Para além dos canabinóides, as plantas, fungos e árvores que vamos discutir neste artigo são também capazes de produzir compostos muito semelhantes aos canabinóides que actuam ao regular certos mecanismos no corpo, como discutiremos de seguida. Mas primeiro, é necessário começar a contextualizar um pouco o assunto.
O que são os Canabinóides?
Os canabinóides são compostos naturais encontrados em diferentes espécies de plantas, mais frequentemente na Cannabis Sativa. Dos mais de 500 compostos diferentes presentes numa planta, apenas cerca de 66 estão classificados como canabinóides.
O mais conhecido destes canabinóides é o delta-9-tetrahidrocanabinol (Δ9-THC), que é o principal composto psicoactivo da canábis. Por outro lado, o canabidiol (CBD) é outro componente importante, que constitui aproximadamente 40% do extracto de resina da planta.
Os canabinóides presentes nas plantas são denominados fitocanabinóides. Os canabinóides também podem ser produzidos pelo corpo humano, conhecidos como endocanabinóides, que são um componente essencial do sistema endocanabinóide do nosso corpo. Este artigo irá explorar a possibilidade de existirem outras plantas que produzem canabinóides.
O sistema endocanabinóide é principalmente responsável pela manutenção do equilíbrio interno do organismo. Os fitocanabinóides, ou canabinóides produzidos pela planta da canábis, imitam as funções dos nossos endocanabinóides e são responsáveis pelos efeitos psicoactivos associados ao THC.
Dor, stress, apetite e sono são apenas algumas das funções corporais que os canabinóides afectam ao actuarem sobre o sistema endocanabinóide. Os potenciais benefícios para a saúde oferecidos pelos canabinóides são numerosos e incluem a redução da inflamação e o controlo das náuseas.
Tradicionalmente acreditava-se que existiam apenas dois receptores que interagiam com os endocanabinóides e os fitocanabinóides, os receptores CB1 e CB2. No entanto, novas investigações científicas apontam para a possibilidade da existência de outros receptores canabinóides que possam interagir com outras plantas produtoras de canabinóides.
Existem outras plantas que produzem canabinóides?
Historicamente, pensava-se que os canabinóides eram exclusivos da planta da canábis. Contudo, isto não é totalmente verdade, e há outras espécies vegetais capazes de produzir compostos muito semelhantes aos canabinóides. Assim, estes compostos são capazes de interagir com o sistema endocanabinóide e influenciá-lo de forma muito semelhante.
Echinacea
A equinácea é uma espécie vegetal que tem sido utilizada na medicina tradicional durante séculos. A equinácea não contém canabinóides per se, mas contém compostos muito semelhantes conhecidos como canabimiméticos. Estes são compostos que também têm a capacidade de interagir com o sistema endocanabinóide dos seres vivos.
No caso da equinácea, contêm o composto N-alquilamidas, que são capazes de interagir com os receptores CB2 do sistema endocanabinóide. Há um estudo que esboça a possibilidade de que estes compostos que imitam a estrutura dos canabinóides possam produzir efeitos anti-inflamatórios semelhantes aos da anandamida.
Girassóis
O girassol é uma das espécies capaz de gerar compostos semelhantes aos canabinóides, pelo que podem ser classificados dentro do grupo de outras plantas que produzem canabinóides. Entre todas as variedades de girassóis que podem ser encontradas no mundo, apenas o género Helichrysum, composto por mais de 600 variedades diferentes de girassóis, é capaz de gerar um composto muito semelhante ao CBG.
O CBG é um canabinóide conhecido como canabigerol e está actualmente a ser estudado pelas suas potenciais propriedades farmacológicas, mas não tem sido objecto de quaisquer ensaios clínicos. O CBG é o precursor do CBD, CBC e THC. O CBGA (a forma ácida e inactiva do CBG) muda, decompõe-se e torna-se na molécula base a partir da qual se formam outros canabinóides, incluindo o THC, CBD e CBC.
Pimenta preta
Uma especiaria tão comum e presente em quase todas as cozinhas poderia pertencer ao grupo de outras plantas que produzem canabinóides. A pimenta preta é uma especiaria doméstica que muitos acreditam ter tido origem no sul da Índia. Além disso, esta especiaria é conhecida por conter cariofileno, que, embora não seja um canabinóide, é um terpeno que também pode ser encontrado nas plantas de canábis.
Também denominado beta-cariofileno ou BCP, este terpeno pode ser encontrado nos óleos aromáticos tais como óleo de alecrim e óleo de cravo, e na natureza encontra-se com mais frequência no lúpulo, cravo-da-índia, pimenta preta, orégão, canela e manjericão, e é responsável pelo aroma picante em certas especiarias.
Trufa negra
Continuamos com a revisão de outras plantas que produzem canabinóides, e agora falamos da trufa negra, que embora não seja uma planta, mas um fungo, tem a capacidade de gerar compostos que interagem com o sistema endocanabinóide. Neste caso, a trufa negra produz anandamida, o primeiro endocanabinóide descoberto, pelo que sabemos que o corpo também é capaz de a produzir.
A palavra “anandamida” tem origem no sânscrito “ananda”, que se traduz aproximadamente como “felicidade” ou “alegria”, indicando as propriedades que este canabinóide pode ter para melhorar o humor.
Também denominada N-arachidonoylethanolamina (AEA), a anandamida interage com os receptores do sistema endocanabinóide do corpo de forma semelhante aos canabinóides, como o THC. É um neurotransmissor e agente de conexão dos receptores canabinóides, que funciona como mensageiro de sinalização para receptores CB localizados no corpo.
Cacau
O cacaueiro é nativo da Amazónia, e é o principal ingrediente do chocolate. Pertence ao grupo de outras plantas que produzem canabinóides. No caso do cacau, pode produzir N-acylethanolaminas.
As N-acylethanolaminas (NAE) são lípidos bioactivos, análogos estruturais da aracidonialethanolamida (anandamida) endocanabinóide, cujas funções e propriedades estão a ser elucidadas nos últimos anos. Ao activar os receptores CB, estas moléculas exercem uma série de efeitos fisiológicos e, portanto, actuam de forma muito semelhante aos endo e fitocanabinóides e podem aumentar a actividade da anandamida no corpo.
Jambu
O jambu, também conhecida como Acmella oleracea, é uma variedade originária do Brasil e encontra-se no grupo de outras plantas produtoras de canabinóides. É uma estirpe popular devido à sonolência que dá ao ser mastigada, produzindo um efeito semelhante a uma sensação de formigueiro na língua.
Este efeito é potenciado por um composto conhecido como N-isobutilamidas, que a Acmella produz nos caules das flores. Este bioactivo tem sido utilizado na medicina tradicional brasileira para aliviar as dores de estômago, dado que é um composto com capacidade de interagir com o sistema endocanabinóide.
Kava
Apesar de poder ser misturada com outras plantas que produzem canabinóides, a Kava não é uma planta em si, mas sim um extracto que provém de uma planta nativa das ilhas do Pacífico, conhecida como Piper methysticum. Nesta região do mundo, a Kava tem sido tradicionalmente utilizada como bebida social, pois acredita-se que promove efeitos sedativos quando é consumida.
Um dos principais componentes da Kava é o yangonin, que tem a capacidade de interagir com os receptores CB1 do sistema endocanabinóide. Estudos iniciais realizados com Kava mostraram que este composto era eficaz como antidepressivo e até como tranquilizante, utilizado principalmente contra a ansiedade.
No entanto, em 2003, foram notificados 11 casos de insuficiência hepática relacionados com o uso do kava, incluindo sete pacientes que necessitaram de transplante hepático e quatro mortes. Em Janeiro de 2003, a kava foi proibida na União Europeia e no Canadá, e a FDA emitiu outro aviso. Portanto, é uma substância que não se deve utilizar como tratamento farmacológico.
Azálea
A azálea ou rododendro é uma espécie nativa do sul da China, e tal como outras espécies na lista de outras plantas que produzem canabinóides, é utilizada para produzir um extracto que combate as doenças bacterianas. E porque motivo? Porque é uma variedade que pode gerar ácido fólico, muito semelhante estruturalmente aos canabinóides. Além de ter a capacidade de gerar flavonóides, terpenos e taninos.
Planta do chá
As plantas do chá não precisam de apresentação. O chá tem sido utilizado ao longo da história como estimulante devido à presença de cafeína, mas também pertence ao vasto grupo de outras plantas que produzem canabinóides, tendo a capacidade de produzir catequinas.
As catequinas não são canabinóides, mas são flavonóides, também presentes na marijuana e com a capacidade de interferir nas funções corporais do organismo dos seres vivos.
Em conclussão, há um grande número de espécies vegetais que contam com a presença de canabinóides ou compostos conhecidos como canabimiméticos, que são capazes de interagir com o organismo dos seres vivos através do que é conhecido como sistema endocanabinóide.
Só o tempo e a investigação científica poderão ampliar esta lista de plantas que produzem canabinóides. Entretanto, podemos continuar com outras leituras interessantes como CBDP: Um novo canabinóide que oferece novas possibilidades e Trichome Research Initiative e o envelhecimento da resina da canábis.
Licenciado en Biología Molecular, gestor de contenidos y responsable de tienda en Experiencia Natural. Viviendo la vida, hablando de Cannabis Sativa, padre. Número de colegiado es 20787-X.
